Seguem-se algumas
sugestões que podem ajudar nesta fase difícil
1-Fale sobre sua perda e sua dor
Nos
primeiros meses muitos têm esta necessidade, deixe que os outros saibam que
este assunto não deve ser evitado e que lhe faz bem falar sobre isto, abrir-se
com alguém de confiança, ajuda no entendimento e na aceitação. Quando os amigos
entendem o processo, percebem que ouvindo e compartilhando o sofrimento, estão
ajudando; e você vai se sentir melhor desabafando. Entretanto, em algumas
situações, ou com algumas pessoas, quando não quiser falar sobre o assunto,
também diga isto claramente.
2-Enfrente o sentimento de culpa
Quando
se perde alguém importante é difícil sentir que se fez o bastante. Discutir
este sentimento com alguém compreensivo e de confiança vai ajudar a distinguir
a culpa real e irreal e, aos poucos, esta começa a diminuir. Não pode se sentir
responsável por não prever os acontecimentos, ou culpa como se tivesse tido a
intenção de prejudicar alguém. Além do mais, temos que aceitar a realidade de
que ninguém é perfeito, fazemos o possível de acordo com nossa capacidade.
3-Trabalhe os sentimentos de raiva e revolta
Estes
sentimentos existem em face de uma grande perda; é importante percebê-los e
expressar os sentimentos de raiva e amargura. Não adianta negá-los ou
envergonhar-se deles, são normais e irão desaparecendo com o tempo e a
aceitação do fato.
4-Idealização
Há
uma fase em que a pessoa pensa em suas falhas como pai, mãe, filho, cônjuge,
irmão, namorado ou amigo... E vê a pessoa que se foi como um ser perfeito. Com
o tempo, começará a vê-la como um ser humano real, com suas qualidades e defeitos,
assim como todos nós.
5-Não se isole
Mesmo
que não se sinta à vontade para compartilhar seu sofrimento e prefira ficar
sozinho, precisa buscar a companhia de outras pessoas. Amigos e familiares que
o estimem podem ajudar muito. Não se esqueça que não está só; muitos o estimam,
querem lhe dar amor e conforto, assim como precisam do seu amor e atenção. Isto
consola, renova suas forças e ajuda na construção de novos objetivos e, com o
tempo, a recuperar a alegria de viver. Estas pessoas podem fazer muito por você
e você por elas.
6-Mudança de valores
Diante
da morte ou de uma grande perda, a pessoa tende a repensar seus valores, a
reavaliar seus objetivos de vida; deixar de lado coisas que anteriormente
valorizava e que agora percebe que são insignificantes e/ou fúteis, e a
valorizar aspectos que percebe serem realmente mais importantes. Muitas vezes
implementa mudanças positivas na sua maneira de ser e de viver, tornando-se
menos preocupada com o ter e mais com o SER, evoluindo moral, emocional e Espiritualmente.
7-“Nunca mais serei o mesmo”...
É
freqüente haver um grande sofrimento neste pensamento que pode ser real, mas
isto não significa que nunca mais possa ser feliz. Embora esta idéia possa
parecer inaceitável no período do sofrimento, as transformações podem nos
enriquecer. Geralmente é isto que acontece, quando a pessoa aceita trabalhar e
superar a fase de mágoa e revolta, decidindo que pode e deve viver o melhor
possível.
8-Evite decisões importantes ou grandes mudanças
O
primeiro ano após a perda, geralmente não é um período adequado para tomar
decisões importantes ou fazer grandes mudanças, a menos que as circunstâncias o
exijam. Uma pessoa amargurada tem a capacidade de julgamento diminuída. Se
algumas mudanças forem necessárias e inadiáveis, peça a ajuda de alguém
competente e não envolvido emocionalmente com os problemas.
9-Reserve períodos e local para lembranças
Não
fique o tempo todo pensando e vendo objetos da pessoa que se foi. Coloque
alguns pertences dela numa caixa ou armário, não os deixe espalhados. Tente
reservar algum período específico do dia (no início), da semana ou do mês, para
pensar na pessoa e no seu luto, quando também poderá rever os objetos. Evite
fazer isto o resto do tempo, pois nada de bom e útil se consegue com a tristeza
contínua. Para algumas pessoas isto não é fácil de conseguir, mas é
necessário à sobrevivência e recuperação.
10-Prevendo dias e datas difíceis
É
útil saber que vai sentir-se mais triste, solitário e infeliz em certos dias e
datas do que em outros, isto mesmo após já ter-se passado algum tempo e com a
vida mais estabilizada. Estes dias especiais geralmente envolvem datas de
aniversário, Natal, passagem de ano, Páscoa e outros, onde a falta da pessoa se
faz mais presente. Planeje passá-los com amigos ou familiares, pois é provável
que fique mais triste, choroso e deprimido que em outras ocasiões. Não se
isole, é bom que esteja em companhia de pessoas que o estimem.
11-A crença de que a vida transcende nossa estada na terra e num
Ser Superior
Desde
a antiguidade, a maioria dos povos de todas as regiões do globo, com culturas
e religiões diferentes acreditam na imortalidade da alma ou espírito e na
existência de um Deus ou “Algo Superior”. Isto é quase que uma intuição que
nascemos com ela. Um Ser com Amor Incondicional e Sabedoria, perfeito e
justo, não castiga as pessoas, mas sempre quer o seu bem, sua evolução, mesmo
que muitos de nós ainda não tenhamos a capacidade para entender o porquê de
muitos acontecimentos. Hoje, mais do que nunca, temos tido provas da
imortalidade do espírito e de que tudo na vida tem um propósito positivo, que
nada acontece por acaso. Mesmo que não seja religioso, esta crença traz
consolo. Pensar que a pessoa não acabou, mas apenas deixou seu corpo e
transferiu-se para um tipo de vida diferente, em outro plano, faz com que as
pessoas sintam-se melhor diante da perda; e significará que a separação é
temporária, não definitiva.
É
importante saber que pudemos desfrutar da companhia de algumas pessoas
especiais, mesmo que por breve tempo, que nos deixam muita saudade... Só
se tem saudade daquilo que foi muito bom..
12-Culpa por sentir-se bem
São
comuns as pessoas não se permitirem alegria após uma grande perda, não
aceitando convites de amigos, ou evitando atividades agradáveis. Não lute para
continuar sendo ou parecendo infeliz. Perceba que sentir-se contente, ter novos
objetivos, não é deslealdade nem significa que não ama ou está esquecendo o
ente querido. Conseguir prazer em algo significa que está trazendo um
pouco de alívio ao seu sofrimento; retomando ou recomeçando a construir sua
vida. Além disso, se a pessoa que se foi o estima, com certeza gostaria de
vê-lo bem e não sofrendo, preferiria vê-lo contente e isto lhe daria mais
tranquilidade. Procure investir em seu bem estar, engajando-se em atividades
produtivas e que lhe são agradáveis, e poderá tornar sua vida melhor ainda do
que antes, se aprendeu algo com o acontecido, se cresceu com o sofrimento e
compreensão do que é realmente mais importante na vida.
13-Reajuste-se à vida e ao trabalho
Tirar
alguns dias ou semanas para reequilibrar-se e, depois, uma folga ocasional,
quando necessário, é perfeitamente normal. Mas as atividades devem ser
retomadas assim que for possível, pois são importantes no processo de
recuperação. Seja paciente consigo mesmo, porque nos primeiros meses sua
capacidade física e mental podem não ser as mesmas. Deve diminuir sua carga
horária ou o número de atividades, se sentir que é excessiva; mas a inatividade
prolongada faz as pessoas repetirem ou prolongarem a fase depressiva sem nenhum
benefício. Com o tempo poderá também perceber que é importante utilizar um
pouco da sua energia em uma atividade que possa ajudar outras pessoas e/ou
instituições, saindo um pouco de seu pequeno mundo e percebendo a importância e
bem estar que traz ajudar ao próximo, de conseguir tornar outros um pouco mais
felizes e menos carentes física e psicologicamente.
14-Liberte-se de expectativas irreais
Acreditar
que a vida deveria ser diferente, não envolvendo escolhas dolorosas, sofrimento
e perda são irreais e só traz revolta, o que só prejudica. Tornando nossas
expectativas quanto a nós mesmos, aos outros e à vida mais realistas, fica mais
difícil nos frustrarmos e mais fácil nos adaptarmos. Ninguém passa por
situações que não mereça, por puro acaso; nem enfrenta uma carga maior do que a
que tenha capacidade para carregar. Saber que não vivemos num mundo
desorganizado e que existem leis universais, “nada acontece por acaso”;
tudo tem uma razão de ser justa e produtiva, nos leva a encarar os
acontecimentos (com relação a nós e aos outros envolvidos), mesmo os mais
difíceis, como oportunidades de aprendizagem e crescimento.
15-Integrando a perda
As
pessoas não “têm” que ser “vítimas”, qualquer que seja a perda, por pior que
tenha sido. Situações de muito sofrimento podem ser transformadas em
aprendizado. É preciso deixar de lado as perguntas centradas no passado
(que é imutável) e no sofrimento (“Por que isso aconteceu comigo”?) e começar a
fazer perguntas que abrem as portas para o futuro:- “Agora que isto aconteceu o
que posso e devo fazer? O que posso aprender com isto? O que posso fazer para Ser e sentir-me melhor?” Geralmente quando
chegamos à fase da aceitação, atingimos a compreensão e crescemos com a experiência,
a dor se vai. Fica a saudade de uma pessoa com a qual convivemos e que nos
proporcionou bons momentos e ensinamentos, tanto com suas qualidades, como com
seus defeitos; com a qual compartilhamos uma parte de nossa vida. Só se tem
saudade de algo que foi bom ou nos trouxe algo de positivo. Deve ser mais
triste não ter de quem sentir saudade, seja de uma pessoa deste ou de outro
plano.
16-Pesar excessivamente longo
Quando
um sofrimento excessivo consome alguém por mais de um ano, geralmente o problema
principal não é a perda em si, mas algum outro aspecto que precisa ser
entendido. Muitas vezes isto ocorre quando havia uma dependência excessiva em
relação à pessoa que se foi, quando a culpa por algum motivo é um componente
muito forte na situação, problemas emocionais pessoais ativados ou reforçados
pela perda ou outras razões significativas. Amigos, conselheiros ou um
psicólogo podem ser necessários neste caso.
17-Procure ajuda profissional, se necessário.
A
maioria dos que procuram ajuda de psicoterapeuta não são doentes mentais, são
pessoas comuns enfrentando problemas, passando por uma crise e muitas delas
sofrendo uma perda. Um profissional da área é alguém com quem você pode dividir
seu sofrimento, sua revolta, seu medo, suas lembranças dolorosas, sua culpa e
seus conflitos; que pode compreendê-lo e ajudá-lo. As sessões de terapia podem
ajudá-lo também a tomar decisões práticas que o farão sentir-se melhor. Você
pode precisar de apenas algumas sessões, muitos meses para superar a fase mais
difícil, ou mais tempo; tudo vai depender do significado individual da perda,
da maneira como reage às crises e à terapia.
No
início do pesar, uma das formas mais comuns de manifestar o sofrimento é
resistir a crescer com ele. A vida pode ser prejudicada ou fortalecida por uma
perda. Ninguém permanece o mesmo. Cada situação é única e só a própria
pessoa pode buscar e encontrar respostas relativas ao “outro eu” e à outra vida
que vão emergir.
Cada pessoa decide se vai ou não crescer com essa experiência dolorosa,
e quando.
Maria José G. S Nery-
Psicóloga Clínica